Cantor se apresentou neste domingo (3). Ele brincou com seus sucessos autodepreciativos, como ‘Loser’. Beck toca “Loser” e levanta a galera no Primavera Sound
É certo que, ao lançar um novo trabalho, Beck pode surpreender pelas suas transições e mesclas de estilos musicais. Calcado no rock alternativo, ele apareceu para o mundo com a irônica e autodepreciativa “Loser”, em 1994, e conquistou o público jovem da MTV, por se satirizar e tirar um certo sarro da indústria musical da época com produções divertidas.
Ao todo, são 14 discos e alguns singles lançados na carreira em que ele foi do bluegrass, para funk, hip hop, eletrônico e bebeu de fontes do country. O último trabalho completo, “Hyperspace” (2019), teve a produção de Pharrell, conhecido por fazer sons dançantes mais pasteurizados. Recentemente, se juntou à banda Phoenix para mais uma tentativa, “Odisssey”, de junho.
Nem sempre essa miscelânea toda trouxe bons resultados, apesar do talento de Beck, já apelidado de príncipe do rock alternativo americano e que contabiliza oito estatuetas do Grammy no currículo.
Era esse príncipe que o público do Primavera Sound 2023 estava interessado em checar, afinal, a última vez que ele se apresentou por aqui foi no finado Planeta Terra, dez anos atrás.
Beck não dá voltas. Ele começa com a música “Devils Haircut”, uma das preferidas da turma, que encheu a área desse palco.
Depois de um breve “tudo bem?”, já emendou a suingada “Mixed Bizness” e de “The new polution”, de groove sessentista em que ele declara amor a uma moça com gostos curiosos.
O show é veloz, sem muitas firulas com a plateia. Uma música sai praticamente amarrada na outra, um tanto burocrático. Pelo clima, até dava para diminuir um tiquinho o ritmo.
“Qué onda guero” é outra da parte auto-zoação do seu trabalho, em que responde às críticas de ser um homem branco explorando territórios latinos e do hip hop. Sua levada permitiu o balanço dos quadris com os braços para cima por parte dos fãs.
Ela é emendada por “Nicotine & Gravy”, com fundinho de funk-soul, em que é ovacionado quando ele se deitou no chão para cantar.
Ponto alto é a parceria com Gorillaz, “The valley of the pagans”, de pegada dançante e aprovada pelo público.
“Wow”, com flauta caricata e batidas do hip hop, já não causou o mesmo efeito e deu uma esfriada no andamento da performance. “Gamma ray”, a seguinte, até pareceu que ia engatar, mas não rendeu tanto também.
O clima mais introspectivo se dá com as delicadas “Lost cause” e “Everybody’s got to learn sometime”.
Foi bonito de ver a plateia em estado de contemplação, subindo o volume em coros suaves nos refrãos.
A vibe volta para a pegada dançante com “Dreams” e “Up all night”.
Pausa na correria para uma declaração de amor pela música brasileira. “Meu primeiro show que vi foi do Tom Jobim”, declarou.
É, e não tem jeito. “Loser” continua sendo um dos destaques da apresentação. Ele começa com um solo no violão apontando que era hora daquele coro da galera, executado lindamente.
Já caminhando para o final, ele trouxe à tona sua persona divertida do “nerd branco fazendo hip-hop” com “Where it’s at”. É aqui o momento que ele pareceu mais empolgado, comandando os “ooooo” e “eeees”.
O resultado foi um show dançante que exibiu o talento que todo mundo sabia que existe ali. Mas soou burocrático.
A apresentação foi fechada também sem grandes despedidas, apenas ele e a gaita de “one foot in the grave”.
Beck no Primavera Sound 2023
Fábio Tito/g1
Fonte: G1 Entretenimento